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Uma garota (quase perfeita)

Oi! Decidi criar esse novo espaço no blog em que compartilho textos que gosto e que me marcaram de alguma forma, mas não são de minha autoria. No final do post eu conto onde encontrar a autora e do por que de tê-lo postado. Nos vemos lá embaixo? ;)

.:: FARM RIO ::.


O nome dela era Marcella. Estudávamos juntas na escola e, mesmo que ela não fosse do meu grupo de amigos, a gente aprende os nomes. Era senso comum no colégio que ela era bonita, boa aluna, simpática e tinha sorriso de propaganda de pasta de dente. Ela era da mesma série que eu e todo mundo falava que ela deveria ser representante de sala.
No começo de um semestre, a escola resolveu promover uma dessas dinâmicas de grupo. Botou todo mundo da mesma série no ginásio, mandou formar grupos com gente que não fosse nossa amiga. Acabei num círculo com a Marcella.
A dinâmica de grupo era: pegar um pedaço de papel e escrever algo de que você não gostasse em si mesmo. Aí, anonimamente, todo mundo do grupo colocava o papel num potinho e você tinha que tirar um desses "problemas dos outros" e dizer uma solução. Por exemplo, eu coloquei "viciada em celular", e um colega meu disse que eu deveria cuidar para não esquecer o contato real com as pessoas e tal.
O papelzinho que eu tirei dizia só INSEGURANÇA. Assim, em letras maiúsculas. Falei a primeira ideia que me ocorreu, sobre como a gente dá muita importância às pequenas coisas. Disse que tantas histórias acontecem na nossa vida, e a gente trava para dar atenção apenas a certos acontecimentos. Ficar se prendendo em momentos pequenos de vergonha ou de será-que-vai-dar-certo só atrapalha: o que importa é o resultado do conjunto. Achei que era algo legal de dizer.
Quando terminei de falar, Marcella estava com os olhos cheios d'água. Falou que o bilhete era dela e que nunca tinha enxergado dessa forma. Eu sinceramente não acho que mudei a vida da Marcella. Mas algo mudou em mim. Aquela pessoa que todo mundo admirava era, na verdade, insegura.
Perguntei se ela ia se candidatar a representante de sala e como se sentia para as eleições. Ela não queria se candidatar, achava que não ia ganhar. Bom, claro que todo mundo no círculo da dinâmica fez um escarcéu, disse que ela deveria se candidatar. Ela se candidatou e ganhou. Mas só conto isso para não deixar a história no meio,
O que me chamou a atenção foi que ela brilhava e não via, feito um vagalume que não se reconhece no espelho. Comecei a perceber a besteira que tinha falado na dinâmica. Eu devia ter falado sobre como ela brilhava. Ela merecia o prazer de saber que era ótima. Droga. Ela saiu da escola um tempo depois.
Fica um pedido oficial de desculpas a Marcella. E também o lembrete para todas as inseguras-vagalumes. Que são muitas. Que somos nós.
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Ontem quando estava caminhando com meu pai, vi um brilho se apagar e se acender novamente na minha frente. Era um vagalume. Lembro de quando me mudei para Taubaté e os via mais vezes. O enxerguei por uma fração de segundo, que logo desapareceu noite adentro, mas me trouxe de volta essa memória que eu achei válida de ser compartilhada...
O texto foi escrito pela escritora Luisa Geisler (você pode encontrá-la em seu twitter aqui e em seu tumblr aqui) e eu o retirei de uma Capricho antiga que não faço ideia da edição - guardei só essa página e colei em uma das primeiras páginas do meu journal. Eu comprava a revista principalmente por causa dessa categoria comportamental (aquela que fica na última página - como sobremesa hehe - e atualmente é da Bruna Vieira).
Eu sempre fui uma pessoa insegura, desde criança. Decidi guardar esse texto para lê-lo quando estivesse muito insegura. De alguma forma ele me dava forças e me fazia pensar com mais clareza. Alguém já sentiu isso?
Às vezes as pessoas passam muito tempo tentando achar o brilho, mas não o acham por que já o tem e não enxergam.

Memórias de um dia especial

Às vezes quando vejo fotos antigas, me dá vontade de voltar no tempo, e ficar por ali mesmo. O efeito colateral de momentos bons é a saudade. Sinto falta desse dia, daquelas pessoas e do ar que eu respirei - lá do alto. Essas fotos não retratam quase nada do que foi vivido, mas as amo. Foi um final de semana sem energia, com muitas risadas, um céu estrelado e a alma tranquila. O senhor que cedeu o espaço para nosso grupo vive em cima de uma montanha (que custou minhas pernas sedentárias - na época - para subir hehe), sozinho e com um monte de livros - ele inclusive escreve alguns. E é muito feliz. Desconfio que ele tenha encontrado sua própria Arcádia. 


Paz.

Hoje


Tenho muitas coisas para resolver na cidade. Tenho que pagar a conta de água, comprar um chuveiro novo e tentar chegar antes de o trem partir - odeio essa sensação de que vão partir sem mim (é o que sempre acontece). Droga, Luana, se você não ficasse pensando no que tem que fazer e tentando achar uma metáfora o tempo todo e começasse a fazer de fato, as coisas seriam mais rápidas. 
Às vezes tenho a sensação de que faço muitas coisas no modo automático – e o quão capaz você tem que ser se tudo o que faz não há questionamentos?
Agora estou parada no sinal vermelho. Vejo que algumas pessoas atravessam mesmo assim. Será que o que vão fazer é muito importante? Ou será que a vida delas vale tão pouco? Espero na calçada. Sei que ainda posso ser atropelada por algum carro desgovernado ou por algum alcoólatra. Nunca há uma garantia, então espero.
Mais alguns estranhos esperam ao meu lado. Você está entre eles. Sei que você é também um desconhecido para mim. Mas não consigo te classificar junto com aquelas pessoas. Você me parece muito diferente para ficar no meio dos iguais. Despertou a minha curiosidade de um jeito que ninguém mais fez.
Já te observo faz tempo. Tempo suficiente para fazer algumas suposições. Tempo suficiente para criar perguntas. Aliás, não sei seu nome. Não sei se você gosta de cachorros ou se aqueles pelos eram de gato. Não sei o que você escuta nos seus fones ou em quem você pensa enquanto mantém o olhar perdido. São tantas possibilidades que só a minha imaginação parece não dar conta de preencher. De certeza só tenho uma: você anda rápido.
Anda rápido demais, se misturando a multidão. Provavelmente para sair logo de lá. Pode ter algo muito bom te esperando seja lá para onde você for. Pode ser que esteja fugindo de algo muito ruim. Talvez seja só a necessidade de se manter em movimento. Ou a solidão. Quando estou sozinha ando mais rápido, quase na sua velocidade. E você está sempre sozinho. Talvez seja só a pressa que consome todo mundo.
Naquele momento eu desejei ter as respostas, ou só a confirmação de minhas teorias. Talvez de minha loucura.  Ainda assim, sei de algumas coisas - sei que os ribossomos fazem síntese de proteínas e que todo número elevado à zero é igual a um. Sei que a cada quatro anos tem um reajuste de calendário chamado ano bissexto. Eu sei também que às vezes não adianta ter respostas que não se encaixam. O que importa são as perguntas certas, as que nunca nos ensinam. Vi que faltavam cinco segundos para o sinal abrir. Eu ainda queria saber seu nome. Quatro segundos. E se você gosta de animais. Três segundos.
“Oi, tudo bem?”, te perguntei pela primeira vez.